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Olá, São Paulo! É uma honra estar aqui com vocês hoje. Eu vou falar sobre a disruptura com a maior indústria do mundo:

a energética, uma indústria de seis trilhões de dólares ao ano e está sendo disruptiva agora. Para que vocês entendam quem eu sou e de onde vim,

eu não vim da área de energia; vim da área de software. Fiquei 13 anos na Microsoft, onde trabalhei com o Bill Gates,

e onde desenvolvi uma intuição sobre as mudanças exponencias acontecendo na computação e na tecnologia e como isso acontece setor após setor.

Agora, entre outras coisas, sou um investidor em startups de energia limpa. Estou no conselho de uma empresa chamada E8

e investimos em todo tipo de startups trabalhando para avançar o futuro da energia limpa. Falarei mais sobre isso no final.

Mas a energia é mais do que apenas um problema financeiro, é um problema moral. Estamos no século XXI e mais de um bilhão de pessoas

não têm eletricidade. Elas não vivem no século XXI. As áreas escuras desse mapa da Terra feito por satélite

são áreas em que civilizações inteiras não têm acesso à energia moderna, e isso limita as sociedades.

E ao mesmo tempo que a forma com que utilizamos a energia apresenta vários problemas, a Organização Mundial da Saúde estima que a poluição do ar

mata mais do que cinco milhões de pessoas por ano, no planeta Terra. Isso é mais do que dez vezes

o número total de mortes por ano, de todos os assassinatos e de guerras combinados. Só no Brasil, a poluição do ar

matou 49 mil pessoas ano passado, tanto quanto o número de pessoas mortas por homicídio no Brasil.

E há também outro problema sistêmico de que vocês ouviram falar ontem: o carbono que estamos emitindo está aquecendo o planeta.

9 dos 10 anos mais quentes do planeta Terra ocorreram na última década. 2016 foi o ano mais quente do planeta Terra;

2017 quase chegou lá, e vai aumentar de novo. A boa notícia é que a energia está passando por uma disruptura.

Eu não uso essa palavra à toa. Isso é o que ela significa: esta é a Peabody Coal. A Peabody Coal era a maior empresa de carvão

do setor privado em todo o mundo. Ela agora está falida. Ou apenas acabou de sair da falência.

Em um período de três anos, foram de uma receita de bilhões à declaração de falência. E não foi apenas uma empresa;

tivemos oito das maiores empresas de carvão do mundo indo à falência. O índice global de ações negociadas publicamente

de empresas de carvão caiu 90%. Agora, aumentou um pouco e estão em queda de apenas 75%,

mas essa ainda não é uma boa colocação. Isso não aconteceu porque paramos de usar carvão; o carvão ainda é a fonte energética número 1

no planeta Terra. Mas, depois de 150 anos de consumo de carvão aumentando desde a Revolução Industrial,

pela primeira vez, em 2013, pela primeira vez, em 2013, ele parou de aumentar. ele parou de aumentar.

O consumo de carvão chegou ao ponto máximo e agora está diminuindo. E o que está causando isso mundialmente

é a mudança para a energia limpa. O vento é uma das formas de energia limpa, e para mostrar para vocês o que está acontecendo,

terei que recorrer à Economia, porque de modo geral as pessoas irão comprar a energia mais barata que puderem pagar.

Hoje, se você quiser construir uma nova usina termelétrica de carvão ou de gás natural, isso vai te custar

em torno de US$ 0,06 por kWh, ou R$ 0,21 por kWh. Em 1980, a energia eólica custava 10 vezes esse valor.

No interior dos EUA, um kWh custava 57 centavos, 10 vezes mais que o carvão ou o gás. Mas desde então, o preço da energia eólica

no interior dos EUA abaixou 15 vezes, uma queda de 94% no preço. E isso não aconteceu só nos EUA,

aconteceu no mundo todo. As áreas vermelhas e amarelas deste mapa são as áreas de vento intenso, e nessas áreas

a energia eólica tem se tornado cada vez mais o tipo de energia mais barato para se comprar. E o Brasil tem ventos de primeira,

especialmente na porção oriental do país. especialmente na porção oriental do país. De fato, segundo algumas estimativas,

De fato, segundo algumas estimativas, o Brasil tem os ventos mais estáveis e confiáveis do que qualquer país.

Então, vemos o desenvolvimento do vento acontecendo especialmente no leste do país, onde há agora mais de 12 GW de energia eólica implementada.

E enquanto os preços da energia eólica estão caindo por toda a parte, o Brasil chocou o mundo há duas semanas.

Foram anunciados os resultados de um leilão de energia e, no Brasil, o preço da energia eólica sem subsídios chegou a R$ 0,07, US$ 0,02 por 1 kWh,

um terço do preço da energia de carvão ou de gás. Ele quase se igualou ao preço mais baixo para a energia eólica já registrado, no México,

por volta de um décimo de centavo. Então, vemos que, em cada país, os preços da energia eólica estão em queda significativa.

Eles estão caindo de um extremo a outro daquela linha vermelha pontilhada; ela é a linha dos preços do carvão e do gás,

e o preço mais recente do Brasil está lá. Esta é uma mudança revolucionária agora com base puramente na economia.

Faz mais sentido construir turbinas eólicas na maior parte dos lugares do que construir usinas de carvão e gás.

Com base em políticas e na queda súbita dos preços, a escala da energia eólica pelo mundo explodiu. Aumentou em quase 7 vezes nos últimos 10 anos.

E isso por si só abaixa os preços. Porque algo que vemos em toda tecnologia exponencial é que aumentar a escala leva a mais aprendizado,

a mais inovação, e à queda do preço. Então, cada duplicação da escala de energia eólica diminuiu o preço por volta de 20%

e aumentou sua credibilidade. Isso significa que há um ciclo virtuoso com cada tecnologia exponencial,

especialmente com energia eólica. No começo, sua nova tecnologia exponencial é extremamente cara, muito cara

para a maior parte dos mercados. Mas quando você consegue seu primeiro cliente, os preços caem.

Quando seus preços caem, há um novo mercado que você pode explorar, que você não podia acessar inicialmente,

e quando você acessa esse novo mercado você tem mais demanda; e a sua escala aumenta; e quando a escala aumenta,

o seu preço cai de novo. Nós vemos esse ciclo virtuoso acontecendo de novo, com relação a tudo: IA, biotecnologia,

fibra de carbono e, especialmente, energia. Portanto, os preços de energia eólica continuarão caindo. Este não é um preço final;

ele deve cair de novo pela metade pelos próximos 10 ou 15 anos. Teremos US$ 0,01, R$ 0,04 o kWh aqui no Brasil.

Mas a energia solar faz a energia eólica parecer lenta e estagnada. A explosão da energia solar é como nada que já vimos antes.

Novamente, é a Economia que dirige isso. Em 1977, 1 watt de energia solar custava US$ 77. Hoje, custa US$ 0,30.

É uma queda de 250 vezes no preço. É mais rápido do que qualquer coisa que já tenhamos visto em infraestrutura física.

Pontes não barateiam dessa forma; construir rodovias, barragens ou prédios não barateia dessa forma.

É quase como uma transformação digital na infraestrutura física mais básica. Agora estamos alcançando o ponto de transição

com energia solar também. Nas partes mais ensolaradas do mundo é o tipo de energia mais barato que você pode comprar. Ponto.

Uma usina de energia de carvão ou gás vai te custar US$ 0,06 ou R$ 0,21 por kWh. Vamos ver alguns preços de energia solar ao redor do mundo.

No sudoeste dos EUA, em Tucson, Arizona: 4,5 centavos, um quarto mais barato do que o preço do carvão ou gás.

O preço de contratos de 20 anos de energia solar nos EUA caiu por um fator de 8 nos últimos 10 anos. Na Índia, o país em que empresas de carvão

que a demanda de carvão aumentasse, tivemos dois recordes de lances mais baixos no ano passado. Eles dizem que o carvão é 3,1 rupias,

e a energia solar é agora 2,4 rupias. 3,8 centavos de dólar; um terço mais barato do que o carvão na Índia.

Então vocês veem que o preço da energia solar na Índia caiu em um fator de 4, em apenas 4 anos. Aqui no Brasil, em um leilão de energia

terminado 2 semanas atrás, a energia solar chegou a 3,4 centavos de dólar, ou R$ 0,12 por kWh.

Ainda um pouco mais caro que a energia eólica aqui. O Sol produz eletricidade durante o dia, quando a demanda é maior, então supre aquela demanda.

Mas esse não é o preço mais barato. Há lugares mais baratos: México, 2,5 centavos. Abu Dhabi, uma das minhas fotos favoritas

de todos os tempos, estes xeiques do petróleo em frente de seus painéis solares novos em Abu Dhabi.

2,4 centavos. Esse foi o contrato de eletricidade mais barato quando isso ocorreu há 16, 17 meses.

Mas agora o preço mais barato de todos, e isso aconteceu há 6 semanas, é no Chile. 2,15 centavos/kWh.

Novamente vocês podem ver que o preço da energia solar tem caído ainda mais rápido do que o preço da energia eólica.

Em cada país o preço está caindo bruscamente. Movida por isso, a energia solar explodiu. Eu disse a vocês, a energia eólica aumentou 7 vezes

na última década. A energia solar cresceu 50 vezes na última década. Colocando isso em outra perspectiva,

aqui estamos com uma escala exponencial. Cada parte é um fator de aumento em 10 vezes. Levou mais de 20 anos para chegar ao ponto

em que 1% da eletricidade do mundo fosse energia solar. Levou dois anos para chegar a 2%, E é onde estamos agora.

Em mais dois anos, seremos 4%. Novamente, chegamos ao ciclo virtuoso, em que a energia solar aumenta,

o preço abaixa, e continua abaixando. Isso tem enormes implicações. Na faixa equatorial, nas áreas vermelhas e laranjas,

a energia solar agora é competitiva e de fato a energia mais barata, sem subsídios.

Essas bilhões de pessoas que não têm eletricidade, onde vivem?

Quase todas elas vivem na África subsaariana, no sul da Ásia, ou algumas na América Latina,

todas nas partes mais ensolaradas do mundo. O Brasil de fato é uma das partes mais ensolaradas do mundo.

E está em condições de ser uma superpotência solar. Voltarei a isso. E o preço da energia solar continuará caindo,

e está mais rápido do que o da energia eólica. Então, hoje, a solar é mais cara do que a eólica no Brasil;

em três, quatro, cinco anos esse não será mais o caso. Agora, preciso falar de alguns problemas específicos aqui,

porque o Brasil tem um sólido investimento em energia hidrelétrica. Isso funcionou muito bem para o Brasil,

mas ele tem algumas consequências. Falamos um pouco sobre isso ontem. Essas represas espalhadas pelo sistema fluvial

da Amazônia têm algumas questões negativas. Elas levam ao alagamento de áreas de alta biodiversidade, na Amazônia.

Mas há outra razão pela qual eu acho que a era de construção de grandes represas no Brasil está acabando, e é simplesmente a Economia.

Porque construir uma nova represa no Brasil custa três vezes mais do que construir um parque eólico ou duas vezes mais do que uma instalação solar.

Somente por esta razão, acho que o Brasil utiliza a energia hidrelétrica muito bem, mas provavelmente irá construir mais

usinas solares e eólicas para o futuro. Se falamos sobre energia solar e eólica, o que acontece para a produção energética quando o Sol se põe?

O que acontece para a sua energia eólica se o vento para de soprar? O melhor que você pode fazer é colocar esses dois juntos,

porque as energias do Sol e do vento são contracíclicas, complementares. Aqui há um dia perfeito na Califórnia, 24 horas.

Ao meio dia, o Sol está brilhando mais forte, produzindo mais energia, e estatisticamente, o vento sopra mais à noite.

Aqui estão 11 meses na Alemanha. Você consegue mais energia solar nos meses de verão e mais energia eólica nos meses de inverno.

Então, agora vemos projetos combinados que integram essas duas energias. No Chile, há dois meses tivemos um lance

de 2,5 centavos de dólar, menos da metade do preço do carvão e gás por combinar energia solar e eólica produzida

em um período de 24 horas.

Com energia solar e eólica juntas, e uma rede de larga escala, você pode conseguir 70 ou 80% da sua eletricidade.

Mas para chegar ao restante, precisamos resolver esse problema, o armazenamento de energia. Essa é a área mais interessante em energia limpa,

do meu ponto de vista.

Vocês todos sabem quem é esse homem?

Tony Stark?

Acho que ele é o mais próximo que temos. O Elon está apresentando a bateria Powerwall da Tesla, e na primeira semana depois do anúncio conseguiram

1 bilhão de dólares em pedidos para esse produto. O engraçado é que isso não é uma tecnologia da Tesla, isso na verdade é uma tecnologia da Panasonic.

Um monte de células da Panasonic integradas em uma caixa da Tesla. Ele é um negociante incrível, entre outras coisas.

Mas eu guardei isso para mostrar que não foi uma descoberta científica repentina que levou a produtos assim.

É que baterias de lítio-íon também são uma tecnologia exponencial que está ficando mais barata em escala.

O preço delas caiu 25 vezes nos últimos 25 anos. De fato, elas surpreenderam os previsores de novo e de novo. Aqui há uma série de previsões

para o preço das baterias feitas em 2013. Vou mostrar que o Departamento de Energia dos EUA previu que o preço das baterias de lítio-íon

vai cair por 1/3, nos próximos 30 anos. Isso pode parecer muito impressionante, uma brusca queda nos preços.

O que aconteceu de fato é que o preço caiu 80%, 5 vezes desde 2010. É isso que está acontecendo e os previsores

foram deixados para trás. Apostem nos inovadores, e não nos previsores. As baterias ainda são bem caras,

custam muito mais que a energia solar e eólica, mas agora são baratas o suficiente para serem usadas para certas aplicações.

Na Austrália, o Estado do sul da Austrália integrou grandes quantidades de energia solar e eólica e teve como resultado problemas de estabilidade

com sua rede elétrica, então Elon Musk disse que em 100 dias a Tesla poderia resolver esse problema.

De fato, em 100 dias, Tesla construiu o maior banco de baterias do mundo no sul da Austrália, um banco de 100 megawatt.

E isso funciona como um produto digital, porque tivemos uma usina termelétrica de carvão com um disjuntor quebrado e que ficou offline

há alguns meses atrás no sul da Austrália, e normalmente isso teria causado um blecaute. Teria levado minutos ou horas para trazer uma nova

usina de gás ou carvão que assumisse seu lugar. Em vez disso, em 140 milissegundos, a bateria assumiu o controle.

É isso que parece a tecnologia digital no campo da energia. Agora vemos que cada vez mais está aumentando

todo projeto de energia solar e eólica nos EUA, pelo menos. Está acontecendo com baterias integradas.

Na verdade, nos EUA tivemos um leilão no começo deste ano, em fevereiro, em que uma empresa de energia solar

fez um lance pela energia do anoitecer, das 16h às 20h. E ela superou o gás natural por horas depois

do pôr do Sol, por conta da integração de baterias. Agora, mesmo a energia do Sol e do vento

mais baterias estão ficando mais baratas do que carvão ou gás em algumas partes do mundo. E os preços das baterias vão continuar caindo,

de fato elas estão caindo em quase a mesma taxa do que a energia solar. Aqui está o preço da energia solar caindo

e aqui está o que acontece com o preço da bateria lítio-íon em função da escala. Então o preço das baterias vai continuar caindo.

Em 2030, o preço das baterias lítio-íon vai cair mais, de 3 a 5 vezes, tornando-o realmente competitivo por uma grande quantidade de armazenamento de energia.

Eu fico falando isso que teria soado como uma insanidade há alguns anos atrás, estou falando de energia mais barata.

Sempre soubemos que deveríamos obter energia limpa, longe dos combustíveis fósseis, mas pensávamos que implementar energia seria muito mais caro.

Mas se você levar essa tendência a sério, parece que em todas as partes do mundo, alguma combinação de energia solar, eólica

e armazenamento de energia será a opção mais barata de todas. Mesmo empresas mais conservadoras estão dizendo isso.

Irei mostrar uma delas. Aqui está uma organização bem conservadora, está é a IEA, a Agência Internacional de Energia,

é a expert mundial em energia. Mas a IEA não é o que eu chamaria de uma organização exponencial.

Vou mostrar à vocês. Vamos dar uma olhada em algumas previsões deles para o que acontecerá com energia solar

e ler isso desde o início. Há uma série de previsões que eles fizeram; a linha azul claro na parte inferior

é a previsão deles, em 2002. Eles disseram que teríamos 50 gigawatts de energia solar instalados em 2030.

Agora, temos 400 gigawatts instalados ao final de 2017. Em 2004 disseram que esta previsão estava um pouco baixa;

teremos que aumentar esse número. Em 2006, disseram que a previsão estava baixa e que teriam que aumentá-la.

Em 2008, em 2009 aumentaremos nossa previsão. A cada ano.

É como se alguém do IEA estivesse olhando a planilha do Excel e dando “Copiar + Colar” a cada ano. Certo?

E eles ainda não entendem, ainda fazem previsões lineares para o crescimento, a linha vermelha do topo, quando o que está acontecendo é exponencial.

A cada ano, implantamos 40% mais energia solar do que no ano anterior. No entanto, mesmo essa organização,

que por toda a sua existência tem estado errada em cada previsão sobre energia solar, diz que a energia solar será a fonte número 1

de energia no planeta Terra. E que os preços da energia solar serão imbatíveis.

Eu prefiro um gráfico desta organização: Alliance Bernstein é uma empresa de capital privado em Nova York.

Eles são financiadores, não ambientalistas, mas eles lançaram esse gráfico três anos atrás, chamado “Bem-vindo ao Terrordome”,

porque eles estavam dizendo aos clientes para terem medo. Este gráfico tem na parte inferior o preço do carvão,

gás e petróleo nos EUA. E o que é isso na parte superior direita, essa linha cinza?

O filho de alguém pegou um lápis e riscou o relatório dos pais?

Este é o preço da energia solar caindo. E se virmos o preço da energia eólica e das baterias, é o que está acontecendo.

É um período de 70 anos. É isso que está acontecendo pelo mundo. Isso começa a parecer como uma disrupção,

como um “momento Kodak”, e isso costumava ser algo alegre; agora não é algo alegre quando dizemos “momento Kodak”.

Agora, eu quero ser honesto com vocês:

construímos infraestrutura energética para funcionar por décadas. Se você construir um novo oleoduto ou usina de carvão

carvão é esperado que funcione por 30 ou 40 anos. Essa disrupção não vai acontecer em poucos anos, mesmo com a velocidade com que

essas tecnologias estão acontecendo. Isso levará décadas. Mas está acontecendo agora.

Em janeiro do ano passado, a China China cancelou 104 usinas de carvão planejadas. Até o final do ano foram 160.

As usinas em vermelho, 40 delas delas já tinham começado as ser construídas pelo menos 10 bilhões de dólares gastos e cancelados.

Em um mês no ano passado a Índia cancelou 14 gigawatts de energia a carvão; 8,9 bilhões de dólares americanos

simplesmente cancelados, e a razão que eles deram foi clara como o dia: o preço da energia solar está em queda livre, na Índia.

Como poderiam construir usinas de carvão agora? Mesmo se for mais barata agora, não vai ser mais barata em 5, 10 anos,

então não temos escolha a não ser desativá-la. É o que está acontecendo, tenho comparado os preços de uma nova usina de carvão ou uma nova usina de gás

à uma nova usina solar. Mas algo ainda mais disruptivo está acontecendo: energias eólica e solar estão ficando tão baratas,

que construir uma nova usina solar ou eólica está ficando mais barato do que operar sua usina a gás ou carvão já existente.

Não sou só eu que digo isso, disse também o CEO da NextEra nos EUA, uma grande empresa que administra

a energia e a luz da Flórida, e muitos de vocês provavelmente já estiveram em Miami, e utilizaram energia desta empresa.

Ele disse em Janeiro, que construir novas usinas será mais barato do que operar usinas de carvão já existentes nos próximos anos.

De fato, a Carbon Tracker fez uma análise disso, aqui está o custo de usinas elétricas de carvão nos EUA e aqui está o custo de construir

novas usinas solares. Isso é uma imensa disrupção. E para aqueles que são investidores

de usinas já existentes, esse é um enorme potencial para prejuízos. É um lugar muito ruim para se estar.

Por que sou dos EUA, me perguntam com frequência: e este cara? Ele não vai impedir que tudo isso aconteça nos EUA?

A resposta mais curta é: não. Trump não está tendo quase nenhum impacto nas transições para a energia limpa

que estão ocorrendo nos EUA, muito menos globalmente. Na verdade, nas primeiras 8 semanas deste ano, mais usinas de carvão fecharam nos EUA

do que nos primeiros 4 anos de Barack Obama. É isso que está acontecendo. O Trump não é um fator relevante neste momento.

Ok. Tudo isso foi sobre eletricidade, mas há essa outra forma do uso da energia:

usamos a energia para nos movermos, movermos nossos bens e produtos por toda a parte. E isso ocorre majoritariamente por meio do petróleo.

Isso importa porque o petróleo é a commodity mais valiosa globalmente. Pode ser uma commodity de 2 trilhões de dólares por ano.

É altamente volátil e as altas nos preços levam a recessões globais. Certo?

O petróleo é altamente sensível. É um mercado de 90 milhões de barris por dia e um excedente de 2 milhões de barris pode derrubar

o preço a 30 dólares o barril. E uma falta de 2 milhões de barris por dia pode aumentar o preço a 150 dólares o barril.

Portanto, uma mudança de 2% na oferta e na procura pode causar uma oscilação de preços de 400%. Eu me sinto mal por aqueles, cujo trabalho

é prever os preços do petróleo. Isso não pode ser feito. Mas talvez previsões a longo prazo possam ser feitas.

E eu vou explicar por quê. Se falássemos sobre o petróleo há 10 anos estaríamos falando sobre a alta do petróleo.

O auge da oferta do petróleo. Não conseguimos tirar petróleo suficiente do chão, as pessoas querem mais petróleo

do que podemos produzir. O preço do petróleo ficou elevadíssimo. Teremos um barril de petróleo a 200 dólares.

Certo? Mas nada disso aconteceu. O que falamos agora é algo diferente.

Falamos no auge da demanda do petróleo. O momento no qual o mundo simplesmente procura menos petróleo do que costumava,

da mesma forma que ocorreu com o carvão. Certo? E não sou o primeiro a enxergar isso.

O ministro saudita do petróleo nos anos 1970, durante a crise da OPEP, xeique Yamani, viu isso e alertou seus xeiques,

no início deste século: “A Idade da Pedra não terminou por uma falta de pedras.”

Certo? A era do petróleo vai acabar com o petróleo ainda no chão. O que ele está dizendo é que o mundo vai inventar

melhores tecnologias que irão substituir a necessidade de petróleo. A Idade da Pedra terminou porque inventamos o bronze,

, e você pode transformar o bronze em espadas, arados; era mais leve, mais afiado e flexível. Essas pedras no chão se tornaram inúteis.

E Yamani está dizendo que isso pode acontecer com nosso petróleo também. E agora está acontecendo.

Dois anos atrás eu não acreditava nisso, mas agora está claro que a eletrificação dos transportes é uma tecnologia exponencial e disruptiva.

Aqui está a razão pela qual eu não acreditava nisso: feche seus olhos por um segundo e se imagine há 10 anos.

Lembre-se de como você imaginava que um veículo elétrico pareceria. Abra seus olhos e veja se se parecem com algo assim.

Você poderia usar isso em uma estrada? Seria seguro? Você conseguiria fazer 60, 70, 80 km/h?

Ele conseguiria te levar e te trazer do trabalho? Eu acho que não. Certo?

Mas isso mudou, boa parte da disruptura vem de níveis mais baixos, mas a Tesla veio de um alto nível

e mudou totalmente a percepção do que era um veículo elétrico. Elon tinha desde o começo um plano secreto

sobre como a Tesla viria de um alto nível para causar uma ruptura no mercado. Foi muito importante para ele.

Era um plano tão secreto que ele o publicou em 2006 para testar um blog. E você pode lê-lo.

Acho que você deveria fazer isso, na verdade, porque ele está falando daquele ciclo virtuoso que mencionei. Ele disse: “Aqui está o plano diretor da Tesla.

Vamos fazer um carro elétrico esportivo de 250 mil dólares, o mais rápido do mundo. Mas só vamos vender algumas centenas.”

“OK, isso não é muito disruptivo. Mas vamos usar isso para chegar ao ciclo virtuoso e usar a renda disso para construir

um carro de luxo de 80 mil dólares, o melhor carro do mundo. Vamos vender centenas de milhares desses.

Vamos usar a renda deles para construir um carro de 35 mil dólares para o ‘mercado de massas’ e vamos vender milhões desses.”

E é aí que ele fica disruptivo. E agora a Tesla é na verdade uma empresa que tem alguns problemas.

A Tesla poderia não ter sobrevivido. Eles não conseguem produzir esses carros tão rápido quanto os clientes querem.

Mas já não importa. Mesmo se a Tesla fosse à falência, a revolução do veículo elétrico agora é inevitável.

Cada fábrica está fazendo novos modelos de veículos elétricos com preços mais baixos e maior alcance. Nos próximos 5 anos haverá 250 modelos

diferentes de carros elétricos no mercado. A Nissan apresentou o seu Leaf em dezembro, mais barato do que um Model 3, com alcance de 250 km.

A Volksvagen disse há um mês que vão gastar 25 bilhões de dólares para desenvolver baterias para os veículos elétricos que eles querem vender

nos próximos anos. A General Motors anunciou que seu futuro é “todo elétrico”.

Cada veículo da GM terá uma opção elétrica ou híbrida. É até engraçado falar que veículos elétricos são disruptivos

porque são tão pequenos. Há mais de 1 bilhão de carros nas estradas e apenas 3 milhões de carros elétricos, 0,3%.

Um a cada 300 carros. . Alguns pixels em um gráfico dos transportes em geral. É irrelevante hoje.

Mas a taxa com a qual estão crescendo é fenomenal. 58% de crescimento ao ano, dobrando a cada 15 meses. Exponencial.

Levamos 28 anos para vender o primeiro milhão de veículos elétricos.

18 meses para vender o segundo milhão. 8 meses para vender o terceiro. Em aproximadamente 5 meses venderemos o quarto milhão.

É isso que parece uma exponencial. E de novo os previsores nos deixaram totalmente cegos para isso.

Aqui está uma previsão pelo Departamento de Energia dos EUA, o EIA: quantos veículos com alcance de 100 milhas haveria nos EUA

está representado pela linha azul, ou com um alcance de 200 milhas, pela linha vermelha.

A linha vermelha é tão baixa que vocês mal conseguem ver. Deixa eu ajudar vocês.

Eles disseram que em 2040 haveria 20 mil veículos nos EUA com um alcance de 200 milhas.

Tesla vendeu meio milhão de Model 3. Uma leva de produção está colocando aquilo abaixo. E assim que vendemos mais veículos elétricos,

o componente mais caro, vendemos mais baterias, e isso significa que os preços das baterias abaixam.

E assim que diminui o preço da bateria os preços dos veículos diminuem. E quando eles ficam mais baratos

vendemos mais veículos, e isso significa que o preço da bateria abaixa de novo, e entramos novamente naquele ciclo virtuoso.

E se observarmos o ritmo pelo qual os veículos estão barateando, teríamos, por volta de 2030, um carro para cinco passageiros como o Tesla Model 3,

que acelera como um Porsche, que tem recursos de piloto automático, e que é mais barato do que um carro

Smart de dois passageiros. É aí que está a linha verde. E se isso parece maluco, aqui está o porquê:

esse é todo o mecanismo de transmissão de um carro elétrico.

Este é o equivalente para um carro de gasolina ou etanol. A única razão pela qual carros elétricos são caros

é que baterias são caras e que ainda são produzidos em pequena escala. Quando são feitos em números equivalentes,

faz todo o sentido que este será muito mais barato do que aquele.

É claro que ainda há limitações, a realidade é que a gasolina ainda tem 10 vezes mais energia por grama, por quilo do que as baterias.

Isso está melhorando. Baterias de lítio-íon triplicaram sua energia por unidade de peso nos últimos 25 anos.

E no laboratório há outras tecnologias: baterias de estado sólido, que podem ter três vezes o alcance, baterias de lítio-ar que poderão

ter 10 vezes o alcance. Essas baterias, quando aparecerem, serão bem caras, e a princípio

não serão usadas em carros. Serão usadas em outros lugares. Eu tenho um desses drones, um Phantom 4 da DJI.

Ele voa por 30 minutos. Mas com uma bateria de lítio-ar ele poderia voar por 300 minutos.

E agora estamos falando de algo mais comercialmente e industrialmente útil. E agora, mesmo com as baterias atuais,

as empresas estão pensando em transporte aéreo. Uma empresa em Dubai fez um protótipo de um táxi aéreo, e no começo deste ano, há dois meses mais ou menos,

Larry Page, cofundador do Google, revelou isto: este é um Cora, de uma empresa chamada Kitty Hawk, na qual ele investiu.

É uma empresa de veículos voadores elétricos que pousam e decolam como um helicóptero e voam como um avião.

Eles podem pousar em qualquer lugar e têm um alcance de centenas de milhas e provavelmente custam muito pouco por km viajado.

E é totalmente autônomo, não há piloto lá. A última coisa que você quer são humanos dirigindo essas coisas.

Isso leva à autonomia. A autonomia é a segunda tecnologia que combina a eletrificação para trazer uma disruptura ao transporte.

Veículos autônomos estão aqui, estão à beira da implementação e podem simplesmente fazer coisas que você e eu não podemos fazer.

Eles podem enxergar tudo em volta deles, podem tomar decisões em microssegundos, o que para nós leva segundos.

Quantos de vocês já passearam em um veículo autônomo?

veículo autônomo... Levantem as mãos. Um ou dois de vocês. . OK, para o restante de vocês vou mostrar um vídeo

que mostra como é estar em um veículo autônomo. Esse é um veículo autônomo bem americano. Olhem só como é.

-Ah, meu Deus. Ah, é a palavra certa.

Caramba!

Caramba! Não tem mãos naquele volante.

Ai, meu Deus!

O quê?!

-Está dirigindo sozinho.

Às vezes eu digo: esses são os gritos do futuro do mercado de petróleo.

Estive no Japão em Novembro, conheci uma empresa da qual nunca tinha ouvido falar e me deram uma carona em um carro robô,

eu gritei também.

Na verdade, nós não gritamos, somos aqueles motoristas chatos a maior parte do tempo, são veículos para a família.

Essa é a ideia. A Waymo, uma subsidiária da Google, tem 500 desses nas estradas.

Cruise Automation, essa startup, tem também 500 veículos. A General Motors ficou tão assustada com o que

estava acontecendo que eles adquiriram essa startup por um bilhão de dólares. É uma startup de apenas um ano.

E agora eles dizem que vão transformar essa tecnologia em “Ubers autônomos”, basicamente. Não em 2029, mas em 2019, no ano que vem.

No início do ano, a Toyota decidiu investir 2,8 bilhões de dólares em autonomia, em uma startup de carros autônomos.

No verão passado, três frotas de caminhões autônomos cruzaram a Europa, e isso não apenas economizou na mão de obra e possibilitou que dirigissem 24 horas por dia,

obtendo um alcance maior, mas, ao dirigirem um atrás do outro, eles diminuíram o uso de combustível entre 25 e 30%.

Software ajudando no consumo de energia. Tesla diz que o hardware de autonomia já está no modelo atual S, nos últimos anos.

Este é um vídeo de um modelo da Tesla de 2016 sendo dirigido com o novo software que eles têm. Quando as funções de autonomia

são melhoradas cada vez mais, a Tesla lança atualizações de software para motoristas, que já têm seus carros.

Isso, muito em breve será implementado. E isso, por sua vez, acelera esta terceira tecnologia ou essa terceira tendência em serviços de transporte:

transporte solidário.

Isso importa porque muda a economia. Hoje, você compra um veículo, compra um carro que custa muito dinheiro logo de cara

e você presta menos atenção em quanto você gasta por milha. Mas quando você entra em um táxi ou um Uber, você está pagando pela milha,

você está pagando pelo quilômetro. E isso muda a economia. Uma razão pela qual a Uber foi tão bem-sucedida

é que na maior parte do mundo um Uber custa metade do que um táxi por quilômetro ou por milha; 1 dólar por quilômetro. Isso diminuiu os preços.

Se você torná-lo autônomo, você pode cortar os custos pela metade novamente, por volta de 50 centavos por km.

Torne-o autônomo e compartilhado; Módulos de compartilhamento estão sendo testados em Dubai. Você pode cortar o preço pela metade novamente,

25 centavos o quilômetro. E se você torná-lo elétrico, você pode diminuir o preço mais uma vez.

Porque embora os veículos elétricos sejam mais caros do que carros a gasolina inicialmente, eles custam menos a longo prazo.

Eles custam menos porque o custo da energia de um veículo ecológico equivale a um quarto do valor de um veículo de combustão interna

por milha ou por km. Eles são 90% eficientes, enquanto os veículos de combustão interna

têm 15% de eficiência aproximadamente. Se você olhar o custo total da posse de um veículo, há um estudo sobre isso feito em Londres:

aqui no meio há um veículo dependente do petróleo, com seu custo durante 4 anos, e aqui está o veículo elétrico.

Mesmo hoje, veículos elétricos já são mais baratos. E vão ficar ainda mais baratos. Em 5 anos, por milha ou quilômetro,

um carro elétrico, pode custar metade do que um veículo de combustão interna. Se você chamar um Uber ou um táxi,

você vai pagar um preço ou pagar o dobro por um veículo barulhento, poluente e fedido a gasolina? Eu sei o que vocês vão fazer,

vão escolher a opção mais barata. Essas três tendências de eletrificação, autonomia e transporte compartilhado ou como serviço

se aceleram entre si. Agora, portanto, essa revolução é quase inevitável. E cidades e países perceberam isso.

O prefeito de Beijing anunciou no ano passado que todos os 70 mil táxis da cidade se tornariam elétricos. O Ministério de Energia da Índia

tentou seguir isso ao dizer que, em 2030, na Índia, somente veículos elétricos poderiam ser comprados.

Os ministros da França e do Reino Unido disseram o mesmo para 2040. O que está acontecendo agora está acontecendo

no maior mercado de carros do mundo, na China, porque lá as autorizações para carros elétricos já estão em vigor.

E na China, a porcentagem de novos veículos elétricos será de 20% em 2025. Mas esse é o ritmo de crescimento

dos veículos elétricos de qualquer forma. Esse é o ritmo pelo qual estão crescendo no mercado. Eu disse a vocês que uma oscilação de 2 milhões

de barris de petróleo por dia poderia fazer o preço alavancar para 150 dólares o barril ou derrubá-lo para 30 dólares o barril.

Quanto tempo até que os veículos elétricos destruam 2 milhões de barris por dia da demanda por petróleo?

No ritmo atual, em 4 ou 5 anos.

E aí, eu acredito que poderemos prever o preço do petróleo a longo prazo, e ele será mais barato, porque, como o carvão,

o consumo já vai ter chegado ao seu ápice, e diminuído. De fato, nas previsões de qualquer organização pelo mundo,

o crescimento de veículos elétricos está aumentando. Essa mudança é nos últimos 2 anos de previsões somente.

Então, quando irá a demanda por petróleo chegar ao limite? Não podemos saber com certeza, mas aqui há algumas estimativas.

A IEA diz que nunca chegará ao limite; continuaremos usando mais petróleo para sempre, todo ano.

Vocês já sabem o que eu acho da IEA. Bloomberg acredita que irá chegar ao limite já em 2020. Eu acho que isso é um pouco cedo demais.

O que dizem as grandes companhias de petróleo? As grandes petroleiras da Europa? A Total, da França, empresa multibilionária, diz:

até 2030 a demanda chegará ao ponto máximo. Statoil, que mudou seu nome para Equinor: eles dizem que a demanda chegará ao máximo

nos anos de 2020. A Shell, eu estava falando com eles nesta manhã: nos próximos 5 a 15 anos, a demanda por petróleo

vai chegar ao ponto máximo e vai cair. Então, o que acontece se todo seu modelo econômico se baseia em vender petróleo para seu país inteiro?

Ou se 70% da receita do seu país vem de óleo e gás?

O que isso causa no Brasil? Talvez não muita coisa, mas o Brasil tem talvez 6% a 7% de suas exportações em petróleo.

Outra parte de suas exportações são carros, ônibus e caminhões. O que acontece com esses setores? Sei que temos algumas pessoas da Petrobras aqui.

O que eu perguntei a vocês é se vocês são uma empresa de energia ou uma empresa de petróleo? Porque essas trajetórias podem ser diferentes.

O que isso vai fazer com o mercado de etanol no Brasil? Porque se a demanda pela gasolina chegar ao limite, a demanda pelo etanol também chegará ao máximo

e cairá.

Finalmente, como você toma medidas em um contexto como esse, que está em disrupção? O caractere chinês para “crise” significa tanto “perigo”

quanto “oportunidade”, e eu acredito que tenhamos ambos aqui. Falamos um pouco ontem sobre mudança climática.

E eu quero ser claro: mesmo que essa transição esteja acontecendo muito rapidamente com energia limpa, não parece claro que esteja acontecendo rápido o bastante.

Temos que descarbonizar em um ritmo mais rápido do que jamais foi feito na história. E para fazer isso, para ficar abaixo do limite

de 2 graus Celsius que os cientistas disseram ser seguro, podemos somente usar 1/4 das reservas de carvão, petróleo e gás que conhecemos.

O que acontece com os outros 3/4? Eles valem uma estimativa de 22 trilhões de dólares pelo mundo.

Esse valor chegará a zero? Há uma bolha sendo estourada? E se estiver, isso terá consequências para

o restante da economia global? Acho que terá. De fato, o Citi diz que essa estimativa é muito baixa,

e que o valor total de combustíveis fósseis que não podemos usar é de mais ou menos 100 trilhões de dólares.

É uma soma gigantesca, quase inimaginável.

Mas na destruição há sempre criação. Então, aqui há 4 conselhos que dou a empresas e países sobre o que fazer nessa transição.

O primeiro é limitar sua exposição a ativos altamente voláteis, ou, em termos técnicos, precaver-se. É como diríamos na América.

Para ser honesto, agora o preço do petróleo está indo muito bem e os preços poderiam aumentar a qualquer momento.

Mas eles vão cair de novo. E você quer limitar sua exposição a essa inconstância. Número dois: ser eficiente.

Eficiência é a energia mais barata com a qual eu posso te oferecer uma vantagem competitiva. Três: ser flexível.

Hoje o preço da energia é um pouco similar em diferentes partes do mundo, mas no futuro não vai ser.

Os lugares que forem mais ensolarados e com mais vento terão a energia mais barata. E essa é uma vantagem estratégica para o Brasil,

que tem um dos preços de energia eólica mais baratos e um dos preços de energia solar mais baixos no mundo. O Brasil poderia ser um lugar com a eletricidade mais barata,

o que atrairia indústrias para cá, e traria mais oportunidades para usar a eletricidade na produção de bens e na exportação.

Ser mais flexível com o tempo também: por conta da forma com que o Sol e o vento funcionam, os preços da energia não serão homogêneos durante o dia.

Eles serão direcionados por sua disponibilidade. Você consegue tirar vantagem disso e conduzir seus processos energéticos quando a energia

for a mais barata possível? Você consegue usar armazenamento de energia? Toda startup de armazenamento de energia

de que falei funciona nesse modelo. Eles podem usar a bateria para comprar energia barata da rede, onde é a mais barata,

e então guardá-la para você, para usar nos momentos mais caros. E número quatro, e o mais importante,

é investir no futuro. Vou ilustrar o que uma escala de investimentos poderia e talvez deveria ser.

Esta é a Alemanha. É um dos países menos ensolarados do mundo. Está mais ou menos como o Canadá.

A Alemanha é onde a revolução solar começou, seja lá qual a razão. A Alemanha tem 40 mil GW de energia solar.

Isso é quase 4 vezes o que o Brasil tem. É ainda mais chocante quando você os compara em escala. Essa é a Alemanha e esse é o Brasil.

Um pequeno retângulo no centro do Brasil tem mais luz do Sol do que a Alemanha inteira. E se compararmos os ventos,

a Alemanha tem 5 vezes mais energia eólica instalada do que o Brasil, apesar do fato de que o Brasil tem ventos melhores,

mais rápidos e estáveis e mais baratos. O mundo gastou 330 bilhões de dólares somente esse ano implementando energia limpa, e esse investimento

pode impulsionar ainda mais a economia do Brasil. Eu invisto em startups que querem ser as próximas gerações;

as próximas Teslas, as próximas cidades solares, para ajudar a facilitar esses 330 bilhões de dólares ou mais que irão gastar.

Se vocês estiverem curiosos, podem ler mais sobre o que eu faço lá. Vou encerrar com uma citação filosófica:

eu fui para a Universidade de Illinois, em Urbana-Champaign. Este é o ILLIAC, o segundo computador digital do mundo,

construído lá. Do tamanho desta sala, pesava dezenas de toneladas. Usava dezenas de milhões de watts de energia.

À esquerda há uma tecnologia obsoleta, o iPhone 6.

O iPhone 6 pesa dezenas de gramas, usa milliwatts de energia. Se você quisesse construir algo tão poderoso

quanto qualquer smartphone usando a tecnologia do ILLIAC, teria uma pegada maior do que São Paulo, teria quilômetros de altura,

usaria mais eletricidade do que a América Latina inteira, e ainda assim não conseguiria rodar Angry Birds ou o Snapchat ou qualquer coisa.

Como é possível filosoficamente que essa coisa que pesa dezenas de gramas é milhões de vezes mais poderosa que aquela coisa que

pesava dezenas de toneladas?

Não é uma violação da conservação de energia ou da conservação a matéria ou algo assim?

Minha resposta é: esse dispositivo não é feito de matéria. Ele não é feito de vidro, ou silício, ou plástico.

Isso é feito de informação. Isso é feito de descobertas científicas acumuladas, descobertas da engenharia, desenvolvimento de software,

e a informação tem uma economia fundamentalmente diferente do que a matéria. Porque eu poderia quebrar meu telefone.

Mas você não pode quebrar uma ideia. Eu poderia dar meu telefone a vocês, ter meu telefone roubado.

E eu não o teria mais. Mas se eu tivesse dado a vocês uma ideia, nós dois a teríamos. E se trocarmos ideias, elas se cruzam

e dão origem a outras ideias. E a ideia certa pode multiplicar o valor de um recurso.

Pode ser um substituto para o solo, ou trabalho, ou capital, ou energia, ou materiais, e esse conhecimento, essas ideias são o recurso que temos que está

sempre crescendo com o tempo, não diminuindo. E isso é, fundamentalmente, por que sou um otimista. Muito obrigado a todos.